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segunda-feira, 10 de março de 2014

REVISITANDO ALGUNS TEXTOS^^

Resumo
O presente trabalho trata sobre as questões relacionadas à arte e à juventude. Que relações são essas e de maneira elas acontecem. Alguns dos textos analisados fazem parte dos debates que aconteceram no ano de 2008 nas conferencias de juventude, também outros textos foram usados na pesquisa como Helena Wendel Abramo e outros autores que tratam da temática. Mas, apesar de termos vários estudos sobre juventude, ainda é pouco o material que fala sobre a produção artística- cultural dessa parcela da sociedade. O trabalho aqui não esgota o tema, visto que é preciso tempo e pesquisa que se aprofunde mais no mesmo, então por enquanto, faremos uma breve analise de alguns documentos e algumas considerações e quem sabe num futuro não muito distante, possamos realizar de fato uma pesquisa que aponte caminhos sobre a produção artístico- cultural desses jovens e como de fato torná-los visíveis.
Palavras Chaves: produção artístico- cultural, juventude


Como tornar visível a produção de jovens artistas?

Antes de pensarmos na produção desses artistas, temos que pensar nos contextos em que a juventude é formada. Falar de juventude no singular seria um erro já que existem diversas formas de ser jovem, cor, raça, religião, a classe social em que estes estão inseridos, entre outras. Talvez a única característica que podemos dizer que é comum a todos é a questão da idade. Hoje, no Brasil, são consideradas jovens as pessoas que tem entre quinze e vinte e nove anos e são para essas pessoas que são voltados diversos projetos dos governos no que diz respeito à juventude.

A juventude é marcada por transformações tanto corporais, quanto de comportamento e de colocação na sociedade. É hora de trabalhar, de estudar e muitas vezes de se constituir uma família. E é na questão do comportamento que fervem as discussões sobre juventude em diversos seguimentos, sejam eles políticos, educacionais ou sociais.

Os jovens sempre foram vistos como problemas da sociedade, por suas características de questionar e querer mudar a realidade em que se encontra. Sempre que ouvimos falar de juventude, ouvimos sobre os desvios de comportamento, das transgressões às ordens sociais, da gravidez na adolescência, do consumo de entorpecentes, etc. Sendo que o grande problema é na verdade a falta de oportunidades que esses muitas vezes encontram, seja a falta de acessos aos serviços públicos (saúde, educação, lazer, cultura) de qualidade ou mesmo a falta de oportunidades de colocação no mercado de trabalho.

O ingresso dos jovens no mercado de trabalho se da de maneira complicada, pois esses se encontram totalmente desqualificados para o mesmo. E se de um lado faltam vagas para captar essa parcela da sociedade de outro faltam incentivos para que estes se profissionalizem.
As políticas publicas voltadas para a juventude sempre são de caráter assistencialista que tratam desses jovens como parte fragilizada ou de riscos para a sociedade. Essas políticas tendem somente ao afastamento desses de áreas marginalizadas visando diminuir o numero de jovens que consomem algum tipo de droga ou que estão em vias de entrar na vida do submundo. O que de fato não resolve o problema da maioria dos casos, pois esses projetos não se aprofundam nas dificuldades vividas por eles e não vão à raiz, onde tudo acontece.

A mídia vem por outro caminho. Formatando esses jovens para o consumismo sem se preocupar com as realidades vividas por esses. Tratando tudo numa superficialidade confortável, sem aprofundar debates que são essenciais na vida desses jovens. Criando uma juventude totalmente apática ao mundo, sem perspectivas de mudanças e acomodados em suas situações cotidianas.
Mas, a cada dia, cresce o numero de jovens que não se conformam com essa realidade. Devido as suas características questionadoras do mundo e a vontade de mudar o mesmo, remam contra essa maré, e discutem as políticas que são voltadas a eles. Buscam meios de mudar realidades em que se encontram, que se organizam em grupos e levam as discussões mais a fundo. Encontrando em suas próprias linguagens, meios de aprofundar esses debates.


É possível encontrar esses jovens nas escolas reunidos em grêmios, grupos de dança, teatro, de estudos e outros. E estes fazem parte de outros grupos de juventude partidária, de debates, de ONGs. Que desde a formação mais simples, falam de problemas vividos e tentam resolve-los. Levando esses debates aos conselhos de juventude que entrarão em contato com os órgãos governacionais para por em pratica os projetos que melhor atendam as necessidades da juventude.

Um exemplo disso foi a I Conferencia Nacional de Juventude, realizada na cidade de Brasília-DF em abril de 2008. Tendo por base, as questões tratadas nas conferencias livres, realizadas por diversos grupos de juventudes nos municípios, questões essas que foram analisadas e debatidas pelas conferencias regionais. As conferencias estaduais discutiram as propostas levantadas e encaminharam as que melhor se encaixavam as necessidades de cada Estado para a Conferencia Nacional, que por fim, mapeou as resoluções e selecionou através de debates e votações as propostas a serem levadas aos governos para que estes pusessem em pratica os projetos propostos pelas juventudes de acordo com as necessidades de cada seguimento (cultura, meio ambiente, igualdade de gênero, juventude do campo etc.).

Aqui faremos uma breve analise de alguns desses documentos, que nos nortearão em algumas idéias.

“... dentro de cada um de nós pode existir um Van Gogh, uma Tarsila do Amaral...Talento pra alguma coisa todo mundo tem. O problema é oportunidade para que essa habilidade se desenvolva e seja reconhecida na família, na escola e na comunidade.
O artigo 23 da Constituição Federal de 1988, diz que é dever do poder publico garantir o acesso à cultura. E não é só isso: a emenda numero 48, de 2005, no artigo 215, garante à defesa, a valorização do patrimônio cultural brasileiro, a promoção e a difusão de bens culturais, a democratização do acesso aos bens de cultura e a valorização da diversidade étnica e regional...”1
O acesso a cultura é um direito garantido na Constituição Federal e em outros diversos documentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 22) assegurando que todos nós tenhamos à participação livre na vida cultural da comunidade em que vivemos. Porem, como já vimos, falta reconhecimento e oportunidades para que possamos desenvolver e aperfeiçoar nossa produção artistico-cultural, que devem fazer parte da formação de cada indivíduo, sendo dever do Estado garantir que essa formação aconteça.

Muitas vezes, a falta de investimento nas produções artistico-cultural põem em xeque a identidade das comunidades, fazendo com que se perca nosso patrimônio histórico, artístico e cultural principalmente nas regiões mais carentes e no que diz respeito à manutenção de tradições regionais. Por exemplo, temos o Moçambique na região Sudeste que vem se perdendo devido à falta de transmissão cultural. Moçambique é uma manifestação folclórica cultural celebrada durante a Folia de Reis que por falta da participação dos jovens vai rareando nas comunidades.

Segundo o Instituto Cidadania2, em pesquisa realizada em 2003, 87% dos jovens de 15 a 24 anos de idade que moram nas cidades e 95% dos que moram no campo nunca participaram de projetos culturais promovidos pelo governo ou por ONGs. 59% dos jovens afirmaram nunca ter participado de atividades culturais realizadas em escolas nos fins de semana. E 58% nunca freqüentaram shows ou outras atividades culturais em espaços públicos.

Os gastos públicos em cultura em 2003 representaram 0,2% do total das despesas dos governos Federal, Estaduais e Municipais. Investimento foi maior nos Municípios: 1% do total dos gastos. Nos Estados, o percentual foi de 0,4% e no governo Federal o investimento em Cultura ficou em 0,03% do total do orçamento (IBGE, 2003).

Esses dados mostram que o investimento em Cultura ainda é muito pequeno diante da imensidão de jovens que não tem acesso a meios difusores culturais. Também ínfimo se avaliarmos a diversidade cultural em nosso país.

A importância da Cultura na formação da Juventude.

“A arte ensina justamente a desprender os princípios do obvio que é atribuído aos objetos, as coisas. Ela parece esmiuçar o funcionamento das coisas da vida, desafiando-as, criando para elas novas possibilidades. Ela pede um olhar curioso, livre de pré-conceitos, mas cheio de atenção. Os jovens já tem essa disponibilidade mas é preciso estimular seu convívio com a arte para facilitar e aprimorar essa percepção.”3

“A Arte como expressão pessoal e com cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento individual. Por meio da arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade critica, permitindo ao individuo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada.” 4

Com os avanços do capitalismo, do mercado de consumo em alta, da facilidade de informações, onde basta acessar a rede internacional de computadores para se ter todo os tipos de informações possíveis, e que muitas vezes são mascaradas e usadas para fins prejudiciais aos consumidores desses serviços, tem tornado a juventude uma fonte inacabável de especulações e possibilidades de se criar cidadãos totalmente induzíveis ao erro e que não se contrapõem a essas praticas. A Internet hoje é muitas vezes usada de formas a propagar a violência e o terror na sociedade, justamente pela facilidade de ser criar perfis falsos, onde o usuário não se responsabiliza pelos seus próprios atos.

A juventude tem se tornado extremamente egoísta e com uma visão pequena do mundo em que vive. Não se importando com o retorno de suas ações, imediatistas, tudo tem que acontecer no mesmo momento em que se pede, em que se deseja. Moldados pelas razoes capitalistas, onde somente dinheiro pode resolver as coisas, pelo avanço da tecnologia e sua rapidez em reproduzir o que se pede. Totalmente alienada ao mundo, formatados pelos modelos teens televisivos.

Fazer com que essa juventude se desprenda dos valores e se liberte de seus pré- conceitos, só é possível através da arte quando esta serve de ferramenta da mudança social por suas imensas possibilidades através de suas diversas linguagens. Mas a falta de incentivo e de interesse no assunto por parte dos governos tem tornado cada vez mais difíceis as ações de arte- educadores em buscar meios de transformar a situação em que esses jovens se encontram.

As formatações do ensino da arte nas escolas contribuem para a continuidade dos processos em que os jovens se encontram, pois não é criado um espaço para que estes se expressem da forma que escolherem e, os professores por terem de dar conta dos conteúdos não se preparam para outras formas de ensinar, e as aulas passam a ser cansativas tanto para os alunos quanto para os próprios professores, e assim cada vez mais perdemos um espaço que poderia ser usado para se produzir e contextualizar ações artísticas e formar cidadãos cada vez mais conscientes de seu papel na sociedade em que vivemos.

“Arte nos torna responsáveis”, entrevista de Leandro Firmino da Hora, ator e vice presidente da ONG Nós do cinema à jornalista Cristiane BAllerini (Onda jovem 03).5

Qual é a relação da juventude com as manifestações culturais hoje? Ela aparece mais como produtora ou consumidora?

O que é necessário para que os artistas e grupos culturais juvenis tenham mais espaço?
Estas são duas perguntas propostas no Caderno do participante Gt. Cultura, e que estão de acordo com o que estamos analisando aqui.

Neste ano ouvimos muito sobre jovens artistas em exposições promovidas por grandes empresas privadas, mas esses ditos “jovens” são pessoas que estão a entrando no cenário artístico agora, mas não são jovens de fato, quando falamos jovens estamos pensando na faixa etária considerada para ela (entre os quinze e vinte nove anos). Então onde esta a produção dos jovens artistas brasileiros? Com certeza em alguns poucos espaços, onde a mídia não alcança, onde pais e outros não aprovam, pois infelizmente a idéia de ser artista não é bem aceita pela maioria das pessoas.
Então, como tornar visível as produções desses jovens artistas?

Podemos dizer que primeiro ha a necessidade de reconhecimento da família na produção de seus filhos, e não só o reconhecimento, mas também, o incentivo para que estes não desistam. A escola pode ser uma grande aliada neste processo. Discutindo e analisando obras e propondo que os alunos produzam suas próprias expressões artísticas. Mas somente isso não dá conta de tornar visível às ações artísticas dos alunos/ jovens. É necessário que essas ações sejam levadas a diante, que haja a difusão da arte entre os municípios, através de mostras culturais, de intercambio cultural, salões de artes, programas de TV e outros que visem mostrar a população desses locais que seus jovens produzem meios de cultura e que se expressam através das artes. Para que estes mesmos jovens não sejam mais vistos como problemas sociais, mas aqueles que trazem um próprio modo de se expressar, que são criativos e críticos, que discutem a situação em que se encontram e não sejam apenas copias do que a TV mostra, que possam mudar realidades através da capacidade de produzir e questionar soluções para o mundo em que esta inserido.

Referencias Bibliográficas
ABRAMO, Helena Wendel. “Considerações sobre a tematização da Juventude no Brasil”. Departamento de Sociologia, Universidade de São Paulo (USP). Revista Brasileira de Educação, 1997.
BARBOSA, Ana Mae. Inquietações do ensino da Arte. São Paulo: Cortez Editora, 2002
CUÉLLAR, Javier Perez de. Nossa Diversidade Criadora- Relatório Mundial de Cultura e desenvolvimento. Campinas: Papirus editora 1997.
DAYRELL, Juarez. “Juventude, grupos culturais e sociabilidade.” JOVENes Revista sobre estudos da Juventude, ano 9 numero 22, México junho de 2005.
FARIAS, Aguinaldo. Arte Brasileira Hoje. São Paulo: Publifolla, 2002
PESCUMA, Derna. Projeto de Pesquisa- O que é e como fazer? São Paulo: Olho d’água, 2005.
Caderno do Participante- GT Cultura – I conferencia Nacional de Juventude. Brasília DF abril de 2008.
Figuras: acervo pessoal.
1(Caderno do participante GT (grupo de trabalho) Cultura, pagina 03 e 06)
2(OP. CIT pagina 07)
3“A Pulsação do nosso Tempo”, artigo de Kátia Caton, curadora de arte do Museu de Arte Contemporânea da USP (Onda Jovem, 03) OP. CIT. Pagina 12)
4 BARBOSA, Ana Mae. Inquietações do ensino da Arte (pagina 18)
5 Caderno do Participante GT Cultura, página 13

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