Arte para que?
Quando os homens ainda habitavam as cavernas, seu fazer
artístico era voltado a um possível registro de sua historia e costumes.
Acredita-se que o homem pré-histórico pintava as paredes das cavernas como
forma de sobrevivência da espécie, pintava como modo ritualístico de garantir
alimento para sua comunidade.
Os egípcios acreditavam que tudo que eles tinham em vida,
devia ser anotado, para que pudessem desfrutar desses bens em morte, que seria
uma vida ainda mais importante do que a vida terrena. Por isso, criavam
“catálogos” do que tinham e do que fizeram aqui no plano terrestre para se
lembrarem nesta segunda vida.
Os gregos acreditavam no belo ideal, e que este belo se
resumia no homem utilizando a proporção humana para todas as coisas.
Quando o império romano surgiu, eles assimilaram tudo o que
os gregos haviam feito com a arte e recriaram copias. No império bizantino, com
a ascendência do cristianismo, a arte volta para ilustrar cenas bíblicas como
modos de fazer com que todos soubessem da historia do Cristo e da vida de
santos e de uma possível vida após a morte.
Até este momento não há um registro do artista. O artista
nada mais é do que um ilustrador da historia. A partir do crescimento das
cidades e do surgimento da burguesia, há uma ruptura do artista e do artesão.
Os artistas passam a ser financiado em suas produções, passando a assinar suas
obras, daí temos o surgimento de vários estudos e períodos artísticos com seus
determinados artistas. Mas ainda o artista exerce a função de perpetuar os fatos,
reproduz imagens da vida cotidiana das cidades, produz retratos das pessoas
ilustres que comandam a mesmas, retratando modos e costumes. Mas há também,
artistas voltados apenas a seus estudos de luz e sombras, não se importando com
os acontecimentos da vida em volta de si. Estes artistas muitas vezes pertencem
à aristocracia, produzem suas obras como representação do belo ou de seus
próprios interesses não tendo nenhum comprometimento com a sociedade em que
está inserido.
Outros artistas questionam o mundo industrializado, as
guerras que dizimam nações, angustia que sufocam a sociedade e a si próprios.
Com o surgimento da fotografia é dada a liberdade aos
artistas, a eles não cabe mais o retrato destas sociedades. E o artista volta
para si, fala de si próprio. Muitas vezes, sem preocupar-se com os possíveis
destinos de sua obra.
Hoje temos vários artistas contemporâneos que ainda discutem
temas como os avanços da tecnologia e os problemas que isso causa à sociedade,
como problemas do meio ambiente, as tentativas de sobrepujar povos menos
favorecidos e a ganância de poucos em tentar dominar e ter somente para si as
riquezas de determinado local. Como também questões mais subjetivas, numa busca
constante de tentar satisfazer seus próprios anseios. Como problemas que estes
artistas possam ter tido em suas infâncias, e tentando, ate hoje, suprimir
estes traumas, trabalhando como defensores de causas dos direitos da
humanidade. Outros artistas estão voltados mais ao mercado das artes, fazem do
meio artístico um trampolim para objetivo capitalista e de interesses próprios,
sem nenhum compromisso com a função questionadora das artes.
Será que a arte só pode existir quando útil para a
sociedade, comprometida com as causas sociais, mas o que seria esta arte comprometida
socialmente?
Podemos dizer que arte comprometida seria uma produção
voltada às questões sociais, onde o artista expõe seu ponto de vista aos
acontecimentos que o rodeiam. O artista se põe em um papel de formador da
opinião publica, ele questiona a todo o momento, através de suas obras, como é
a vida desta sociedade em que vivemos, se este modo é o melhor ou se há outros
caminhos.
Platão questionava a funcionalidade da arte, para ele a arte
era menor que a filosofia, pois criava imitações da realidade e por isso não
tinha um valor para a sociedade grega, enquanto, a filosofia habitava o mundo
das idéias, onde tudo era originalmente criado.
A função utilitária da arte já é questionada desde então,
para os gregos toda a arte tinha que ter uma finalidade pratica. Um artesão era
contratado para produzir objetos que tivessem um motivo de sua existência.
Mas o que podemos dizer do designer, dos artistas gráficos e
outros, eles não produzem objetos com um fim social, eles produzem objetos que
são utilizados no cotidiano, são pensados e projetados para facilitarem a vida
das pessoas. Existe por trás destes objetos todo um estudo, projetos que vão
desde o esboço ou desenho a estudos matemáticos, físicos e dinâmicos para sua
utilização. Estes seriam os artesões da contemporaneidade, que produzem obras
que tenha finalidades a vida humana, e porque estes trabalhos não são
considerados objetos de arte?
Por que o artista deixa de ter uma função de representar o
mundo e passa a falar das questões mais subjetivas, e por que a arte deixa de
ser necessária?
Se pensarmos no momento em que o artista perde sua função de
ilustrador da historia e passa a servir um mercado de consumidores formado de
grupos extremamente fechados, entendemos a visão da arte atual, a visão
seletista da arte que atende apenas a elite de uma sociedade. Pessoas mais
abastadas que tem como investir em meios de cultura voltando à arte e as outras
manifestações apenas a estes grupos.
O que alguns grupos começam a sugerir e a questionar, é que
a arte passe a ser acessível a todos as camadas da sociedade. Mas a educação
destas faz, com que se interessem mais por algumas manifestações de, muitas
vezes, níveis inferiores a que são produzidas para as camadas mais altas da
mesma sociedade. O que torna mais difícil a construção de caminhos para que
cheguemos a uma democratização da arte.
Pensando em arte de nível inferior, me veio a idéia do que
seria ela. Bom, na verdade um amigo que leu este texto me perguntou o que seria
uma arte inferior, será que aquela feita com menos recursos, será que arte inferior
é aquela feita por pessoas menos capacitadas ou pra aquelas advindas de zonas
mais carentes da sociedade mas, tudo não é arte?. Essas perguntas que este meu
amigo me fez me fizeram pensar por algum tempo...
Por algum motivo, me veio a cabeça o “Circo Du Solei” e uma
comparação entre os circos que geralmente vamos, um se paga de duzentos reais
pra cima, outro três, no máximo uns vinte reais...
Fiquei pensando sobre isso, as pessoas que tem mais dinheiro
vão ao Circo du Solei, as que têm menos vão, quando tem oportunidades aos mais
acessíveis. Porque?
Daí me veio um monte de por quês...
Porque grandes empresas investem mais em espetáculos grandes
como estes? Por que as pessoas de menor renda se contentam com espetáculos
menores?
Menor aqui, não diz respeito à quantidade disso ou daquilo,
e sim de qualidade.
Vivemos em um mundo capitalista e infelizmente isso
influencia nas construções da cultura em geral.
Responder se tudo é ou não é arte, é uma tarefa difícil. Se
tudo é, tudo também deixa de ser. E ai vamos ficar rodando nesta discussão por
um bom tempo. Vamos precisar de um tempo muito grande e de vários momentos de
conversa e reflexões...
“...por trás de nossa tagarelice cotidiana paira o
silencio... as grandes coisas exigem silencio ou que delas falemos com
grandeza...”
“Sobre a Arte e a arte” Gleberson Agricio Barbosa
O que seria este silencio que paira por trás de todas as
coisas que fazemos ou pensamos?
Para alguns o silencio é algo tão assustador quanto o
escuro. O silencio é esmagador, e temos medo do que possa acontecer logo após.
Hoje sumiu o avião que tinha destino para a França. Nos noticiários dizia-se
que a ultima comunicação da aeronave com a torre de comando foi que havia uma
pane elétrica na mesma, outras noticias era a de um passageiro que dizia estar
com medo. Depois disso houve silencio, todos estão à espera de noticias, a
França e o Brasil fazem buscas por mar, mas ninguém sabe o que aconteceu. Como
pode um avião com mais de duzentos passageiros simplesmente sumir?
O silencio aqui nos parece algo totalmente assustador,
imagine as pessoas que têm familiares ou amigos neste avião. Imagine se estes
passageiros estão a deriva esperando por socorro, o que é este silencio?
Para outras pessoas silencio pode ser a fonte inspiratória.
Há alguns dias, estava eu lendo uma revista semanária de São
Paulo, onde se dizia do silencio criador, o estar sem fazer ou exercer nada,
andar pela cidade, sem pensar em nada. Foi dado a este exercício o nome de ócio
criativo, quando o artista se põe em silencio para criar.
Há diferenças então no modo de pensar sobre os significados
do SILENCIO, há o silencio pedido em hospitais, a o silencio de concentração
como há vários outros tipos de silencio, então que silencio o escritor nos
sugere?
É um silencio das nossas ações, é se por em estado de
reflexão para que nosso espírito possa falar por, e através de nós. No silencio
onde todas as nossas angústias são visitadas e a partir delas questionamentos
são formados e o nosso modo de pensar e agir são transformados em fazer. Um
fazer que parte do estado de silencio.
Mas o que o silêncio tem a ver com a arte?
Acredito eu, que os artistas antes de compor suas obras, se
fizeram instrumento do silencio criador, deixaram que este silencio agisse
neles, observaram o mundo em silencio, puseram suas angustias a prova e de seus
questionamentos repensaram o mundo e o recriaram através da materialização de
seus pensamentos.
Pensar em arte como o ato de tornar o feio em algo
suportável, talvez venha deste processo de ressignificar através do fazer
artístico por meio do exercício silencioso de repensar o mundo.
O artista torna seus questionamentos em um objeto que é
destrinchado pelos críticos e historiadores, ele é movido por uma força de
pensar e de fazer que seja depois estudado e decomposto pela historia, pondo um
abismo entre as duas, arte e historia.
Mas apesar dos distanciamentos existentes entre as duas
faculdades do pensar humano onde, uma se propõe no fazer, no ressignificar, no
repensar e a outra se reserva o visitar e revisitar discutindo técnicas e
motivos do fazer. As duas andam juntas quando pensamos em visitar artistas
passados de nossa historia, dando assim o estudo da Historia da Arte, onde a
Historia vem estudar e questionar momentos desses artistas. E assim podemos
trazer para os dias atuais idéias que moveram o mundo bem antes de sonharmos
estarmos aqui.
Experiências com arte
Eu e alguns amigos montamos um grupo de professores de arte,
pra discutirmos coisas referentes ao tema "arte-Educação”.
Eu e minha amiga ficamos um bom tempo imaginando como
poderíamos iniciar essas discussões, pegamos livros, buscamos no google e um
monte de outras coisas, eu tenho um livro sobre Van Gogh e neste livro esta
escrito um a frase de uma das cartas que o Van Gogh enviou para seu irmão THEO.
“As emoções são às vezes tão forte que trabalho sem saber
que estou trabalhando" a frase é mais ou menos isso, ai, começamos a
pensar em desenvolver uma dinâmica em cima desta frase de Van Gogh.
Pensamos mais um pouco em como poderia ser esta dinâmica...
No fim resolvemos que íamos confeccionar viseiras, aquela
usada por cavalos que limitam a visão e ele só enxerga o que esta a sua frente
(eu não sei o nome disso). O processo é simples duas folhas de sulfite bastam
(meu amigo conseguiu montar com apenas uma).
Escolhemos também uma musica de Tchaicovisk. Era isso.
No dia um dos membros do grupo leu um texto que ele havia
escrito sobre "a caixa de sapatos”
Logo depois a Ceci sugeriu a brincadeira. Todos se
prontificaram a fazer, participaram nesse dia também dois outros professores,
um de biologia e a outra de português. E tínhamos um não Professor (ele é da
área empresarial). Todos confeccionaram as viseiras, quando todos tínhamos
acabado, a Ceci pos a musica para tocar e ai nós tínhamos que nos movimentar
pelo espaço da sala, com cuidado para não batermos uns nos outros. Apos alguns
minutos nos começamos a andar em círculos, um atrás do outro, e eu que tentei
fazer outro caminho acabei ficando fora do que eles estavam fazendo. A Ceci
interrompeu a musica e então falou pra que nos disséssemos o que havia
acontecido. Todos disseram muitas coisas
Mas o mais importante foi à situação que cada um se achou:
enquanto a musica propunha que pulássemos, dançássemos e fizéssemos outros
movimentos, o medo de bater ou derrubar o outro era maior e foi o que fez todos
andarem em círculos com receio de inovar.
Ficamos limitados aquele espaço e que m tentou fugir do que
estava acontecendo e propor outros caminhos ficou de fora.
A pergunta é E ai?
Como fazer pra que o ensino se renove? Será que temos medo
desta renovação? Será que estamos preparados para que ela aconteça? Porque que
quando alguém tenta ser diferente ele fica de fora?
Qual a função do professor na sociedade atual?
O professor é mediador de um processo para que o aluno se
liberte da viseira ou ele só indica o caminho a seguir?
Estamos novamente nos questionamento que o artista faz
diante da sociedade em suas obras, este é ou existem outros caminhos?
Pensando em caminhos a artista Ligia Clarck com sua Fita de
Moebius, sugere que pensemos nestes caminhos.
Sugerimos que algumas pessoas reproduzissem a obra e falasse
sobre ela. Algumas apresentaram mais facilidades em refazê-la outras nem tanto
assim. O exercício consistia em refazer a fita, percorrer o caminho com uma
caneta hidrocor, e depois recortar a fita como quisesse.
Algumas pessoas, não conhecia esta obra, nem a artista e
acharam interessante a proposta, outras não entenderam o objetivo.
Para muitas pessoas a arte ainda é vista como representação
do belo, e não entendem os questionamentos propostos pela própria obra. Hoje a
arte contemporânea é tida muitas vezes como uma obra de difícil entendimento
por que a sociedade ainda pensa em arte como algo bonito que conta uma
historia. Mas a arte contemporânea esta alem desses conceitos que já estão
arraigados a sociedade. A todo o momento ela nos sugere um novo olhar sobre as
praticas cotidiana. Um olhar que é construído a partir de todo o nosso
repertorio, de tudo aquilo que tivemos acessos através da nossa capacidade de
enxergar, de experimentar de viver e que nos constitui como pessoas, e que a
todo o momento nos questiona sobre o nosso modo de compor este mesmo
repertorio.
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